Não às drogas.
Hoje eu vou
contar uma história. Uma história que não tem final feliz. Ela envolve drogas,
o grande problema atual que afeta, principalmente os nossos jovens.
Eva era uma
criatura encantadora. Bonita, simpática, atraente, culta... Cabelos castanhos
claros, fartos e levemente ondulados emolduravam um rostinho encantador;
sobrancelhas cheias, olhos cor de mel... formara-se em administração de
empresas e hoje gerenciava a pousada da família.
Mas nem tudo
foram flores na vida da moça. Quando cursava a faculdade, Eva esteve à beira de
uma grave crise e por um triz não jogou por terra toda a sua estrutura
psicológica.
Ela conheceu um
rapaz, colega de sala chamado Afonso. Moço tímido, arredio... apesar de
inteligente, demonstrava uma vontade fraca, denunciada por um ligeiro tremor
dos lábios e um piscar excessivo de olhos, cacoete que trazia desde pequeno.
O queixo era
coberto por uma barbicha de pelos alourados, finos e ralos, no melhor estilo do
Salsicha, parceiro do Scooby-do; isso lhe dava um ar de menino carente, embora
para um bom conhecedor do caráter humano, também fosse um forte indício de uma
personalidade fraca que poderia ser, facilmente, envolvida por opiniões
alheias.
Entretanto,
esses mesmos sinais o tornavam atraente para o sexo feminino. Justamente pela
fragilidade que ele demonstrava possuir, as mulheres, por seu instinto
maternal, sentiam-se compelidas a aproximarem-se dele.
Com Eva não
podia ser diferente! Ela era uma menina de sentimentos elevados em que se
incluía a piedade, e foi exatamente isso o que Afonso lhe despertou; mas ela,
louca para protegê-lo, confundiu-se achando que aquilo que sentia era amor.
Para Eva, o sentimento era puro e sincero. Para Afonso ela representava apenas
uma muleta, na qual ele pudesse se apoiar e andar, mesmo capengando, pela sua vidinha
insipiente e inútil. Eva, inexperiente nos assuntos do coração, deixou-se
envolver e, em pouco tempo, acabou apaixonando-se pelo rapaz.
Começaram um
namoro mórbido, repleto de lances escalafobéticos e complicados. Afonso era
ciumento e choramingas. Queixava-se de tudo e, apesar da timidez e da
insegurança que demonstrava, às vezes era violento, e se tornava agressivo e
com os olhos injetados. Nessas horas, beirava as raias do paroxismo, o que
podia ser bastante perigoso. Era de um temperamento instável, sujeito a “chuvas
e trovoadas”, fato que o tornava antipático para a maioria das pessoas. Mas Eva
não enxergava nada além daquilo que seu sentimento lhe apontava.
A moça não pôde
deixar de notar que, inúmeras vezes, Afonso quedava-se alheio ao que ocorria à
sua volta como se estivesse fora do mundo real; nesses momentos mostrava-se
desinteressado e nulo. Nos estudos, ia tirando notas sofríveis, medíocres, e
vivia no mundo da lua durante as aulas sem interesse ou vontade, enfim, sem
ânimo para direcionar sua vida como um rapaz normal, universitário e
pretensamente inteligente, agradecido das oportunidades que despontavam em sua
existência. E esse grave sinal acontecera abruptamente sem avisos prévios...
Quando Eva foi
dar-se conta, ela já estava totalmente envolvida com um viciado em crack no
último grau, o derradeiro estágio do vício. E aí começou o calvário da moça
tentando trazer o namorado de volta ao mundo e à vida. Quantas horas perdidas...
quanta conversa inútil... Afonso não se considerava viciado e quando a jovem
diligenciava fazê-lo voltar à razão, irritava-se ao extremo demonstrando um
estado de desequilíbrio ameaçador, uma das características de jovens que se
drogam. E aí falava em matar-se e matar a namorada. Era um tormento a vida da
moça.
Certo dia,
quando ela ia chegando à faculdade, viu um ajuntamento na calçada, perto do
portão; aproximando-se, constatou que havia uma pessoa morta ali, coberta com
jornais... alguém dizia: “coitado, tão jovem ainda! Levou cinco tiros... dois
na cabeça! Foi agorinha mesmo!...” chegou mais perto, e quando um curioso
descobriu a cabeça do cadáver, viu o que seu coração já suspeitava: Afonso
estava morto, presumivelmente baleado por traficantes que se vingavam pela
falta de pagamento da droga consumida.
Seu corpo jazia
inerte na calçada próximo à escola que ambos cursavam, numa posição grotesca,
coberto por jornais e com moscas zumbindo ao redor. Eva sentiu náuseas e,
afastando-se para um lugar mais ermo, encostou-se à grade do portão da escola e
vomitou todo o café ingerido mais cedo. Depois chorou copiosamente, e entre os
soluços que estremeciam seu corpo, colocando para fora todo o sentimento
reprimido, transferiu a culpa do acontecido para si própria e se ajoelhou junto
ao corpo, abraçando o rapaz morto e participando de uma cena dantesca e
patética ao mesmo tempo, de cortar o coração mais endurecido: era a
manifestação subconsciente da frustração por não ter conseguido trazer o moço
de volta para o convívio normal de seus amigos, sua família e seus estudos.
Afonso
envolvera-se com drogas e sem ter dinheiro para fazer face às compras
frequentes da pedra que vicia de forma violenta, ficou na mão dos marginais que
comercializavam a droga na porta do colégio.
O usuário de
crack precisa cada vez mais da droga para satisfazer suas necessidades. Se ele
tiver cinco, ou dez, ou quinze pedras, ele quer fumar todas. Torna-se um
insaciável. Os traficantes, sabendo que já haviam sugado quase tudo de Afonso,
começaram a ameaçar, apertando o jovem. Queriam o dinheiro de qualquer maneira.
Afonso começou a
se envolver com o roubo para pagar o vício. Primeiro em casa, tirando dinheiro
dos pais sem eles perceberem. Depois, como os pais eram pobres destinando seu
pequeno ganho, seu parco dinheirinho para garantir o futuro do filho em uma
faculdade particular, Afonso passou a furtar telefones celulares e carteiras de
transeuntes que passavam por ruas mal iluminadas.
O passo seguinte
foi o assalto à mão armada, usando um revólver calibre 32 que adquirira no
submundo que frequentava, juntando mais essa dívida à conta do traficante que o
havia adotado.
Mas parece que,
mesmo assim, não conseguiu cumprir com seus compromissos, pois a cada dia
precisava de mais e mais pedras e, por isso foi morto. Infelizmente é a mesma
estória de milhares de jovens, ricos, filhos de boa família, estudantes
universitários, secundaristas, classe média, trabalhadores, proletários,
pobres, miseráveis...
O crack nivela
as classes sociais, transformando todos em zumbis, mortos-vivos que andam pelo
mundo carregando seus corpos esqueléticos sem ter ideia para onde vão. É a
degradação de todos os valores educacionais e morais, o cancro que corrói uma
sociedade que vê seus jovens arrastados como fantasmas pelos meandros de uma
ficção doentia, atrás de umas gramas de pó ou uma pedra mortal para poderem
sentir as sensações falsas que seu ego necessita. E, na maioria das vezes, é
sob a sepultura a derradeira estação onde vão desembarcar após essa louca
viagem.
Não às drogas,
não ao vício! Tudo que pudermos fazer para erradicar esse erro, essa falha,
esse alarmante e assombroso mal, ainda é
pouco face ao terrível malefício que ele causa à sociedade, às famílias, aos
jovens e à paz do mundo.
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