segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

ESOTÉRICO OU EXOTÉRICO?


Esoterismo, o que é isso?
Eu estava fazendo uma exposição dos meus livros durante um evento, quando um senhor, já nos seus provectos oitenta anos carregados de sabedoria, acercou-se e ficou manuseando um exemplar de “Os doze degraus do Templo Sagrado”.
Acerquei-me e comentei:
― Esse livro é bastante esotérico...
― Então não serve para mim ― rebateu o ancião. ― Tenho verdadeira aversão ao termo esotérico, não gosto! Uma bobajada que nos faz perder tempo com pedras, cores, sons esquisitos, mantras...
Depois de alguma conversa em que procurei mostrar-lhe que não era assim, ele acabou comprando o livro. Mas aquilo me fez pensar: o que é esoterismo? Hoje em dia inúmeras pessoas intitulam-se esotéricos, mas dentro de uma diversidade enorme de assuntos! E aí dei razão ao velhinho que classificou tudo como bobajada. Como eu não acho que seja bobajada, embora a maioria exponha matérias sem qualquer critério investigativo, muitas vezes destituídas de nexo, resolvi pesquisar mais a fundo o termo esoterismo para não cair num lugar comum nem fazer parte do modismo crescente que o termo vem agregando entre seus seguidores.
Dentre os marcos que pessoas que seguem algum tipo de doutrina ligadas ao ocultismo estabelecem, notamos com frequência a palavra esoterismo, sem que se lhe dê uma definição precisa. Isso acontece com constância em doutrinas que se outorgam detentoras de conhecimentos secretos que devem ser preservados do saber profano. Por isso mesmo, alguns estudiosos têm procurado aprofundar o sentido dessa expressão, seja reconduzindo-a à sua origem, seja através da análise filosófica dos seus significados.
Entende-se que tal termo não existia em épocas passadas como nome indicativo para determinado segmento doutrinário, porém, como qualificativo ele servia para designar o oposto ao termo exotérico que Aristóteles usava para denominar assuntos de conhecimento público e acessível a qualquer pessoa.
O termo é derivado do grego. A palavra esoteros que forma o substantivo esoterikos significando dentro. Fazer entrar, que é o sentido maior, expressa abrir uma porta para dentro, oferecendo então uma possibilidade de que alguém que esteja fora possa entrar, no caso o saber que estava sob sigilo. Eliphas Levi aproxima o termo esotérico do conceito básico do ocultismo ou do hermetismo, ou seja, os lábios da sabedoria estão cerrados, exceto aos ouvidos do entendimento.
Mas isso traz um novo problema: Pessoas sem o devido conhecimento não podem ouvir a palavra esoterismo sem relaciona-la imediatamente a ocultismo. Na verdade, isso não tem o menor sentido, pois para o conhecedor informado o termo esoterismo é um termo iniciático, metafísico por excelência, juntando diversos aspectos que, mesmo sem serem todos eles de origem metafísica apresentam caráter esotéricos na sua essência.
Conclui-se daí que o termo não serve para qualificar doutrinas particulares e tampouco definir elites filosóficas ou intelectuais. Ele paira acima das convicções pessoais estabelecendo uma ponte entre o ser humano físico e o espiritual, o ente interior que se estabelece em consonância e consciência ao seu Criador.
Por esse motivo podemos afirmar que as Ordens iniciáticas possuem uma ligação forte com o esoterismo, pois o ritual de iniciação é uma porta pela qual entra o conhecimento transformando o profano inábil no iniciado que caminhará na senda com passos firmes.
Em inúmeras oportunidades, principalmente dentro dos livros de minha autoria, defini ou mencionei de alguma forma o termo esoterismo, algumas vezes acrescentando ou modificando sentenças sem, contudo, alterar nada na estrutura da forma. É provável que o costume de qualificar doutrinas com este epíteto tenha influenciado alguns estudiosos a misturar o termo exotérico com o conceito de esoterismo. Muitos dos ensinamentos mostrados ao público durante o dia pelos iniciados que mantinham acesa a chama da sabedoria, eram discutidos à noite com outra noção, mostrando o lado oculto da doutrina, principalmente aqueles que se revestiam da roupagem hermética.
Tudo isto explica porque nem sempre o plano esotérico tenha uma correspondência no plano exotérico, ou auferido uma vida própria, ou formado uma linguagem específica e com suas características específicas. Toda a Ordem que lega princípios ocultos ligados ao simbolismo a quem tem o direito de recebe-los e, por outro lado, recebe sem preconceitos os axiomas de outras doutrinas com capacidade de absorver filosofias diversas sem corromper a sua própria, está em consonância com os códigos eternos que caracterizam o verdadeiro esoterismo.
Finalizando o presente artigo acrescento agora que a diversidade de doutrinas as quais se cobrem com o manto do esoterismo, são, sem dúvida, uma necessidade transcendente de difundir a Gnose para se atingir o patamar que permita o homem de se interagir com o Todo, buscando assim integrar-se com a cosmogonia universal.
“Em qualquer lugar que se encontrem os vestígios do Mestre, os ouvidos daqueles que estiverem preparados para receber o seu Ensinamento se abrirão completamente”. (O Caibalion).

Fergi Cavalca

Nenhum comentário:

Postar um comentário