Esoterismo,
o que é isso?
Eu
estava fazendo uma exposição dos meus livros durante um evento, quando um
senhor, já nos seus provectos oitenta anos carregados de sabedoria, acercou-se
e ficou manuseando um exemplar de “Os doze degraus do Templo Sagrado”.
Acerquei-me
e comentei:
―
Esse livro é bastante esotérico...
―
Então não serve para mim ― rebateu o ancião. ― Tenho verdadeira aversão ao
termo esotérico, não gosto! Uma bobajada que nos faz perder tempo com pedras,
cores, sons esquisitos, mantras...
Depois
de alguma conversa em que procurei mostrar-lhe que não era assim, ele acabou
comprando o livro. Mas aquilo me fez pensar: o que é esoterismo? Hoje em dia
inúmeras pessoas intitulam-se esotéricos, mas dentro de uma diversidade enorme
de assuntos! E aí dei razão ao velhinho que classificou tudo como bobajada.
Como eu não acho que seja bobajada, embora a maioria exponha matérias sem
qualquer critério investigativo, muitas vezes destituídas de nexo, resolvi
pesquisar mais a fundo o termo esoterismo para não cair num lugar comum nem
fazer parte do modismo crescente que o termo vem agregando entre seus
seguidores.
Dentre os marcos que
pessoas que seguem algum tipo de doutrina ligadas ao ocultismo estabelecem, notamos
com frequência a palavra esoterismo, sem que se lhe dê uma definição precisa.
Isso acontece com constância em doutrinas que se outorgam detentoras de
conhecimentos secretos que devem ser preservados do saber profano. Por isso
mesmo, alguns estudiosos têm procurado aprofundar o sentido dessa expressão,
seja reconduzindo-a à sua origem, seja através da análise filosófica dos seus
significados.
Entende-se que tal
termo não existia em épocas passadas como nome indicativo para determinado
segmento doutrinário, porém, como qualificativo ele servia para designar o
oposto ao termo exotérico que Aristóteles
usava para denominar assuntos de conhecimento público e acessível a qualquer
pessoa.
O termo é derivado
do grego. A palavra esoteros que
forma o substantivo esoterikos
significando dentro. Fazer entrar, que é o sentido maior, expressa
abrir uma porta para dentro,
oferecendo então uma possibilidade de que alguém que esteja fora possa entrar,
no caso o saber que estava sob sigilo. Eliphas Levi aproxima o termo esotérico
do conceito básico do ocultismo ou do hermetismo, ou seja, os lábios da sabedoria estão cerrados, exceto aos ouvidos do
entendimento.
Mas isso traz um novo
problema: Pessoas sem o devido conhecimento não podem ouvir a palavra
esoterismo sem relaciona-la imediatamente a ocultismo. Na verdade, isso não tem
o menor sentido, pois para o conhecedor informado o termo esoterismo é um termo
iniciático, metafísico por excelência, juntando diversos aspectos que, mesmo
sem serem todos eles de origem metafísica apresentam caráter esotéricos na sua
essência.
Conclui-se daí que
o termo não serve para qualificar doutrinas particulares e tampouco definir
elites filosóficas ou intelectuais. Ele paira acima das convicções pessoais
estabelecendo uma ponte entre o ser humano físico e o espiritual, o ente
interior que se estabelece em consonância e consciência ao seu Criador.
Por esse motivo
podemos afirmar que as Ordens iniciáticas possuem uma ligação forte com o
esoterismo, pois o ritual de iniciação é uma porta pela qual entra o
conhecimento transformando o profano inábil no iniciado que caminhará na senda
com passos firmes.
Em inúmeras
oportunidades, principalmente dentro dos livros de minha autoria, defini ou
mencionei de alguma forma o termo esoterismo, algumas vezes acrescentando ou
modificando sentenças sem, contudo, alterar nada na estrutura da forma. É provável
que o costume de qualificar doutrinas com este epíteto tenha influenciado
alguns estudiosos a misturar o termo exotérico
com o conceito de esoterismo. Muitos dos ensinamentos mostrados ao público
durante o dia pelos iniciados que mantinham acesa a chama da sabedoria, eram
discutidos à noite com outra noção, mostrando o lado oculto da doutrina,
principalmente aqueles que se revestiam da roupagem hermética.
Tudo isto explica
porque nem sempre o plano esotérico tenha uma correspondência no plano
exotérico, ou auferido uma vida própria, ou formado uma linguagem específica e
com suas características específicas. Toda a Ordem que lega princípios ocultos ligados
ao simbolismo a quem tem o direito de recebe-los e, por outro lado, recebe sem
preconceitos os axiomas de outras doutrinas com capacidade de absorver
filosofias diversas sem corromper a sua própria, está em consonância com os
códigos eternos que caracterizam o verdadeiro esoterismo.
Finalizando o
presente artigo acrescento agora que a diversidade de doutrinas as quais se
cobrem com o manto do esoterismo, são, sem dúvida, uma necessidade
transcendente de difundir a Gnose para se atingir o patamar que permita o homem
de se interagir com o Todo, buscando assim integrar-se com a cosmogonia
universal.
“Em qualquer lugar que se encontrem os vestígios do
Mestre, os ouvidos daqueles que estiverem preparados para receber o seu
Ensinamento se abrirão completamente”. (O Caibalion).
Fergi Cavalca
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